A Bíblia deixa claro que a salvação não é pela guarda da lei (leia Gálatas). A lei tanto teve o papel de mostrar o pecado devidamente maligno (Rm 7.13) e também de servir de "aio" (ou ama) para que o homem viesse a conhecer a Cristo (Gl 3.24,25). Um irmão descreveu a lei como uma escada de madeira dentro de um poço onde está caído um homem. Essa escada é boa, só que tem os seus degraus muito longe uns dos outros, tornando impossível de ser usada por um homem.
Em Mateus 5.17 e Romanos 3.31 diz que Cristo veio cumprir a lei, ou seja, Ele se sujeitou debaixo da lei (Gl 4.4), viveu em perfeita obediência à lei (Jo 8.46; Mt 17.5; 1 Pd 2.21‑23); foi um ministro da lei aos judeus, limpando os erros que eles haviam introduzido (Lc 10.25‑37) e confirmando, ao mesmo tempo, as promessas feitas aos patriarcas (Rm 15.8). Por meio de Sua vida santa e de Sua morte ele cumpriu todos os itens da lei (Hb 9.11‑26), e levou sobre Si mesmo a maldição da lei a fim de que todos os que cressem pudessem participar das bênçãos do pacto com Abraão (Gl 3.13,14). Mediante Sua obra, Cristo transportou a todos os que crêem, do lugar de servos da lei para a posição de filhos de Deus (Gl 4.1‑7). Ele serviu por seu sangue, de mediador de uma nova aliança de graça, na qual os crentes estão firmes (Rm 5.2; Hb 8.6‑13). Portanto Ele veio cumprir a lei (o que é impossível ao homem). Portanto, a lei não foi anulada, mas ela serve apenas para mostrar que o homem é pecador (Rm 7.7) e não tem poder para salvá‑lo.
O trecho de Tiago 2.8‑11 mostra a impossibilidade de se receber a salvação pela guarda da lei, pois aquele que guardar toda a lei, mas tropeçar em um só ponto, tornou‑se culpado de todos. Quando se trata de transgredir em atos, como não matar, não roubar ou não adulterar, é possível que alguém consiga se prender em uma jaula pelo restante de sua vida e não fazer nenhuma destas coisas. Mas quando se trata de não cobiçar, que é algo que se passa em nosso coração, vemos a impossibilidade de se cumprir toda a lei (pois tropeçando‑se neste ponto, os outros ficam todos comprometidos). E quem não cobiça? Cobiçar é algo que se passa a nível de pensamento e é algo instantâneo que muitas vezes só percebemos depois de já havermos cobiçado. E foi exatamente neste ponto que o apóstolo Paulo compreendeu sua impossibilidade de ser justificado pela lei: "eu não conheceria a concupiscência se a lei não dissesse: Não cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, obrou em mim toda a concupiscência: porquanto sem a lei estava morto o pecado" (Rm 7.7,8). E a situação fica mais grave ainda quando vemos que, pelo que o Senhor disse em Mateus 5.21,22,27,28, qualquer mandamento pode ser transgredido só em pensamento.
Tiago 2.14‑26 é, aos olhos de muitos, uma justificativa para a salvação por obras. Mas não é assim. Se você comparar a passagem com Romanos 4 irá lhe parecer uma contradição. Tiago diz: "Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?... vedes, então, que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé". Paulo, em Romanos, diz: "Se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus". Parece uma contradição, mas a Palavra de Deus não se contradiz. Portanto, o erro não está na Palavra, mas na interpretação errada que os homens fazem. É preciso compreender o contexto de ambos os livros, Romanos e Tiago.
O primeiro, Romanos, nos fala da justificação DIANTE DE DEUS. Por outro lado, Tiago fala da justificação DIANTE DOS HOMENS. E você verá esta característica em todo o livro. Por exemplo, em Tiago diz: "TU tens a fé, e EU tenho as obras: mostra‑ME a TUA fé sem as TUAS obras, e EU te mostrarei a MINHA fé pelas MINHAS obras" (Tg 2.18). Você consegue perceber que o relacionamento é todo entre homens? Somos justificados (tidos por justos) diante dos homens por nossas obras, pois eles não conhecem nosso coração. Nossas obras são, para os homens, a evidência de nossa fé. Por isso Paulo diz: "Se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus" (Rm 4.2). Ou seja, Abraão tinha obras com que se gloriar diante dos homens, podendo ser considerado justo, pelas mesmas obras, diante deles. Mas não diante de Deus. Deus sonda o coração e só Ele sabe se aquelas obras provém da fé. Assim, Romanos fala de nossa justificação (sermos tidos por justos) diante de Deus, e não há obra, por melhor que seja, que possa enganar a Deus se não tivermos fé em nosso coração.
A falta de compreensão deste aspecto de Tiago, que é a profissão exterior da fé manifesta em obras (que você encontrará em todo o livro), leva muitos a usar Tiago 2.19 como justificativa para dizer que não basta crer. Porém ali não diz que o diabo é crente, mas que os demônios crêem que há um só Deus, e não só crêem como também estremecem. Mas não é o fato de crermos que há um só Deus que nos dá a salvação. Os muçulmanos (maometanos) crêem que há um só Deus e nem por isso estão salvos. Não é por crermos que há um só Deus que somos salvos, mas por crermos em Jesus Cristo; por aceitarmos que Ele é o sacrifício enviado por Deus para a remissão (retirada) de nosso pecado. E que Ele ressuscitou ao terceiro dia, tendo assim o Seu sacrifício sido aceito por Deus (Leia 1 Co 15.1‑4).
E existe uma diferença entre CRER e ACREDITAR. Apenas para dar um exemplo, uma pessoa pode ACREDITAR que um famoso cirurgião seja capaz de fazer um transplante de coração. Porém, tal pessoa terá que CRER na habilidade daquele cirurgião (e achar‑se doente) para deitar‑se numa mesa de operações e permitir que o médico lhe tire o coração e coloque outro no lugar. O fato de crer não se trata apenas de "saber" ou "acreditar" a respeito de algum assunto, mas receber em sua própria vida a ação daquilo ou daquele em quem se crê. No caso da salvação, cremos ao aceitarmos a Cristo como Salvador, o que demônio algum fez e jamais fará. Aqueles que usam erradamente a passagem em Tiago o fazem com malícia e tendo segunda intenção, ou seja, tentar convencer as pessoas de que não basta apenas crer em Cristo, mas que também seria preciso fazer alguma coisa mais, como se a Obra de Cristo não fosse perfeita.
(Mário Persona)
1 comentários:
É mano...
se nossas igrejas entedessem isso muita coisa seria diferente...
Claudião
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